sexta-feira, 29 de julho de 2011

And the Oscar goes to...


Todas as (poucas) vezes que assisti a um filme após ter lido o livro saí do cinema irritada. Mais: sentindo-me roubada. Tá bom, eu sei perfeitamente que 90 a 120 minutos é um espaço de tempo muito curto para contar uma história, mas tem gente que exagera. Além de se perder muita coisa, em alguns a petulância chega ao ponto de mudar o final, inventar personagens e excluir outros. Li que o escritor Jorge Amado recusava-se a assistir às novelas adaptadas a partir de obras dele. Dizia que para evitar a aporrinhação e não via e ponto. Um dos livros que mais reli na minha vida, a trilogia de O tempo e o vento, de Érico Veríssimo, foi adaptado para uma minissérie, da qual assisti apenas o primeiro capítulo. Desliguei a tv xingando em sânscrito. Não sei se foi porque o livro é quase sagrado para mim, mas achei tudo ruim. E confirmei mais uma vez que se eu gostei do livro devo ficar longe do filme. Com uma honrosa exceção: achei o filme “O nome da Rosa” super fiel à obra e muito envolvente. E dou a mão à palmatória: há um filme que eu acho que superou o livro: “Breakfast at Tiffany’s” que deu um banho no conto de Capote. No mais, na lista dos horrores há muitos. Como “Vannity fair” (sorte de Thackeray, que está morto) e odiei a versão de “Orgulho e preconceito”, que achei pobre e desleixado. E vou ficando por aqui, nem quero puxar pela memória, prefiro lembrar coisas boas.
E vamos admitir que não há graça alguma em ver um filme cuja história já conhecemos. Ah sim, claro, mas tem roteirista/adaptador que muda o final, né? Grrrrrrrrr!!!

terça-feira, 26 de julho de 2011

À margem da vida


Outro dia revi o filme “O leitor”, no qual a protagonista, num supremo esforço de superação, aprende a ler sozinha. À parte o fato da história ser belíssima (foi um dos poucos casos em que vi o filme sem ainda ter lido o livro), fiquei imaginando o que seria a vida de um adulto não alfabetizado, sem poder – não vou nem dizer ler livros – decifrar um out-door, uma receita médica, um documento para assinar, um bilhete da professora do filho...
Não lembro de ter conhecido alguém que não soubesse ler, lembro sim, de pessoas com muita dificuldade, embora saiba que isso é mais comum do que possamos pensar. Sei que o cunhado da moça que trabalha na minha casa não tem carteira de motorista porque não é alfabetizado, mas não o conheço pessoalmente e desconheço como é a vida de alguém nessa situação.
Lembro bem, sim, (minha memória é um espanto) de quando eu ainda fingia que sabia ler, de quando ficava olhando para páginas dos livros tentando adivinhar o que eles continham, e da minha empolgação quando fui aprendendo a identificar cada letra. A professora que me alfabetizou – tenho ainda um caderno daquela época – ficou tão ligada a mim, talvez envolvida pelo meu entusiasmo, que chegou a me convidar para ser daminha no casamento dela. Bons tempos.
Na metade do primeiro ano de aula eu já lia fluentemente e passei a ter gostos literários e a sair pela cidade lendo tudo em voz alta. Chata até o último grau. Comecei a colecionar revistas em quadrinhos, ganhar (e pedir) livros de presente, a ler enciclopédias e dicionários e, aos poucos, fui descobrindo a delícia de fazer palavras cruzadas. E nunca mais pensei nisso, na capacidade ou não de ler. Até ver o filme e pensar na horrenda possibilidade de viver totalmente à margem da vida.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Levemente defeituosa


Cresci ouvindo comentários do tipo: “você lê demais, vai estragar os seus olhos”. Nunca acreditei nem por um segundo nessa bobagem e lia como se não houvesse amanhã. E nunca precisei usar óculos até que aos 40 anos me rendi ao fato de que não consegui mais ler as resenhas dos filmes na revista da Net. Catei um oftalmologista e lá fui eu, achando que ele me mandaria embora com ordens de não voltar tão cedo e não fazê-lo perder tempo com pessoas absolutamente saudáveis e com olhos perfeitos. Quebrei a cara ao ouvir a sentença horripilante: é vista cansada e é coisa da idade. Questionei o fato de pessoas mais velhas do que eu ainda não usarem óculos e o médico abanou a mão como que afastando uma mosca imaginária. Eu teria que usar óculos e ponto. Poderia arrastar-me sem eles por mais algum tempo, mas era bobagem. Melhor render-me ao inevitável.
Saí dali rumo a uma ótica, enfurecida e traída. Mandei fazer um par de óculos e repetia feito um mantra que estava charmosa. Cerca de duas semanas depois, já totalmente adaptada, esqueci os óculos em casa, o que só descobri ao chegar ao escritório que, na época, ficava em bairro distinto do meu apartamento. Totalmente desprovida de bom senso, tentei trabalhar sem eles e me deparei com a medonha descoberta de que não conseguir mais ler sem o “equipamento”. Foi uma sensação horrorosa, nunca havia passado por situação semelhante, tentar ler e não conseguir por impossibilidade técnica. Foi uma sensação no mínimo estranha e no máximo muito assustadora.
Hoje tenho seis óculos, um deles no banheiro e não me perguntem para que. Uso um pendurado por uma cordinha no pescoço e dane-se quem diz que isso é coisa de velha. Quando viajo levo dois, para não correr o risco de um acidente me deixar cegueta. E moro a cinco quarteirões do escritório, podendo ir de um ponto a outro em menos de 10 minutos. Nunca mais quero ser impedida de ler o que quer que seja, até porque o grau já aumentou muito e estou a um passo de usar óculos para longe também. Tudo bem que não se estraga os olhos com o uso, mas que eu me sinto levemente defeituosa, ah, isso eu me sinto...

quarta-feira, 20 de julho de 2011

13 livros

Na festa de aniversário dos meus 12 anos ganhei exatos treze livros. Sei porque contei e nunca esqueci o número. Parece que já havia se espalhado entre os amigos a minha predileção. Ou seria eu que, sem pudor, dei a dica? Meu irmão, que também fazia aniversário em data bem próxima e dividia comigo as festinhas, igualmente ganhou alguns e eu os incorporei, na cara dura. O mais hilário daquele dia foi que, com a festa rolando lá fora, minha mãe teve que me arrancar do banheiro aonde, sentada sobre o cesto de roupas, eu lia um dos presentes recém recebidos. A verdade é que eu mal podia esperar para todo mundo ir para casa e poder ler em paz. A festa já havia perdido todo o encanto.
Os meus anos de faculdade, morando sozinha e Porto Alegre e mal ganhando o suficiente para manter corpo e alma juntos, foram meio sombrios no quesito livros. Comprei poucos, alguns de leitura obrigatória do curso de jornalismo e que não estavam acessíveis na biblioteca. Namorava as vitrines de livrarias e lia escondida entre as estantes – auge da contravenção! – o que naquela época não era permitido, muito longe do que vivemos hoje, quando até poltronas as livrarias disponibilizam para que possamos ler com o maior conforto e decidir se vamos ou não comprar.
Hoje, podendo bancar melhor meu vício, compro livros aos baldes, muito mais do que consigo ler. Hoje as livrarias também facilitam ao máximo o pagamento, com tantas opções é praticamente um consórcio. Ainda me pego levando livros que namorava naquela época e que não estavam ao alcance do meu bolso, incluindo infanto-juvenis, ou para estocar mesmo, na eventual possibilidade de ficar sem ter o que ler e não poder comprar... Devo ser um prato cheio para qualquer psicólogo.

terça-feira, 19 de julho de 2011

"uma menininha que gostasse muito de ler..."


Minha avó materna tinha um repertório limitadíssimo de histórias infantis. Só lembro de uma: “Fernando e o avião vermelho”, creio até que inventada por ela, mas que adorávamos ouvir e, se possível, meter uns cacos na história, meu irmão e eu éramos ótimos nos palpites. Por outro lado, ela tinha uma paciência de santo para contar, com muitos detalhes como criança gosta, várias e várias vezes as poucas histórias que sabia.
Hoje penso que aprendi a procurar o que eu queria nos livros porque na minha casa nunca tive essa de pai ou mãe ler para os filhos ou contar histórias de memória. Minha mãe era professora e o tempo era curto para dar conta de tudo, mas quando o colégio em que ela trabalhava resolveu – sabe-se lá porque – fechar a biblioteca da escola, ela foi até lá e resgatou os livros que me faltavam para completar a coleção de Laura Ingalls Wilder, saga de uma família americana que deliciou a minha infância. Tenho essa coleção até hoje, caindo aos pedaços, mas a folheio de vez em quando.
Desde muito pequena eu lembro de termos coleções de livros infantis em casa. “O mundo da criança” é a primeira de que recordo. Minha mãe custou a me liberar a leitura, pois tinha medo que eu os estragasse. Outra coleção – não lembro o nome – tinha as capas dos livros com cores diferentes. Minha mãe gostava de contar que havia adquirido quando ainda estava grávida e que o vendedor a havia convencido a comprá-la sugerindo que o bebê ainda na barriga poderia ser “uma menininha que gostasse muito de ler”. Preciso dizer que eu amava essa história?

Essas coleções estão todas comigo, em um aparador no meu apartamento. Hoje, relembrando tudo isso, vejo mais uma vez o quanto fui privilegiada. Meus pais pouco mais puderam me dar do que o estudo, mas o plus foi, sem dúvida, o gosto pelo maravilhoso mundo das letras. E que hoje, como nada parece ser por acaso, me ajuda a ganhar a vida.

domingo, 17 de julho de 2011

A primeira vez e a inveja

O escritor Jorge Amado costumava dizer que sentia muita inveja das pessoas que ainda não tinham lido Clochemerle, romance de Chevalier, porque essas pessoas teriam a oportunidade de ler esse livro pela primeira vez. Ele dizia que a emoção da primeira leitura do romance ele já não poderia mais ter, pois o havia lido e relido muitas vezes e recomendava o livro a todos.
Foi assim que me senti quando, há alguns dias, minha afilhada contou que estava lendo, maravilhada e sem conseguir largar, “Cem anos de solidão”, de Gabriel Garcia Márquez. Além de absolutamente encantada pela escolha dela, que pegou o livro na estante da mãe, imediatamente saí com a imaginação a galope pela saga da família Buendia. Imediatamente lembrei – mais de 25 anos após ter lido – os nomes de José Arcadio, Aureliano e Úrsula, alguns dos personagens eternos, e contei à Clara que aquele foi um dos livros mais marcantes da minha vida. E, realmente, identifiquei-me com Jorge Amado. A inveja que ele sentia de quem lia Clochemerle pela primeira vez deve ter sido a mesma que senti por não poder ler mais Cem anos de solidão com a mesma sensação de inesperado, de novidade e sem sequer imaginar o final devastador que espera todos os novos leitores. Certamente outros livros fazem o mesmo comigo e com todos aqueles que amam a leitura e a maravilhosa sensação de ser levada para muito longe graças à imaginação de um escritor. Esse é, sem dúvida, um dos principais motivos que fazem do hábito de ler um vício totalmente sem cura.

Interessante é que nunca reli "Cem anos de solidão", mesmo tendo o hábito de reler a maioria dos livros que amo. Ele está aqui na minha estante, acompanhado de vários outros títulos de Márquez,talvez esperando que um dia eu volte para buscar a jovem que era quando senti o arrebatamento de lê-lo pela primeira vez.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A necessidade faz o sapo pular


Não posso imaginar como foi que eu me distraí e deixei acontecer, mas já vivi o desespero inenarrável de chegar em um hotel à noite em cidade pequena, comércio fechado, e não ter levado um único livro. Já pensaram na situação? Em um quarto que não era meu, uma tevê com meia dúzia de canais (ruins) e ter só os impressos de propaganda do hotel para ler?
Creio que foi uma das poucas oportunidades da minha vida em que fiquei assim tão desamparada. Naquela época eu não levava (creio que nem tinha) computador nas viagens, ou seja, nem essa muleta estava disponível. Era chorar ou chorar. Eu me detestei profundamente por pelo menos uma sólida meia hora.
Não lembro mais se demorei a dormir e o que eu fiz até o sono chegar, mas a sensação eu jamais esqueci, tanto que eu não só nunca mais deixei de colocar um ou mais livros na mala, como também compro sempre alguma coisa nas livrarias dos aeroportos, rodoviária, padaria, supermercado, o que estiver mais perto.
Voltando um pouco mais atrás, quando eu tinha 17 anos a família inteira viajou para as praias do Uruguai nas férias. Ficamos lá duas semanas, choveu horrores e o que eu tinha para ler não durou tanto. O resultado foi que fiquei craque na leitura em espanhol, o que eu não entendia eu adivinhava. Foi a solução possível, e eu me virei lindo, o que só comprova que a necessidade não tem lei e ensina mais que um rei, que não há melhor mestra que a necessidade e que a necessidade é a mãe da invenção. Ponto.
Tive um namorado que dizia que pagaria qualquer quantia se pudesse aprender inglês em um método que injetasse o conhecimento diretamente na veia, tal qual injeção. Eu concordo plenamente, até porque já frequentei “ene” cursos de inglês e ainda sou uma capenga no idioma. A alternativa talvez fosse viajar para os Estados Unidos sem livro algum. Aposto que voltaria uma verdadeira Gore Vidal de saias e salto alto.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Até dicionário!


Sim, eu leio até dicionários. Claro que eu tenho o Aurélio no computador, mas outro dia peguei o exemplar do Houaiss do escritório para uma pesquisa mais completa e quando “acordei” meia hora havia se passado comigo enlouquecida mergulhada na letra P.
Esse é um hábito que vem da infância e muita gente me pergunta “mas você não tem o que ler?”. Tenho sim, e as pilhas de livros nos dois lados da minha cama estão ali para não me deixar mentir. Mas os dicionários têm um fascínio ao qual não consigo resistir. É meio que como bula de remédio ou rótulo de xampu: leio que porque vai que ali tem uma informação relevante/milagrosa/super útil e num dia não muito distante eu poderei usá-la.
Na casa dos meus pais tínhamos um dicionário que eu achava enorme, mas vejo hoje que era pinto perto dos de hoje. E todo mundo o consultava, até os vizinhos pediam-no emprestado. Acredito que naquela época eu lia dicionário porque ainda não tinha todos os livros que gostaria. E será que algum dia eu os terei?
Um dos motivos para o meu imenso repúdio à reforma ortográfica (são vários) foram os dicionários perdidos. O que eu faço com os três que tenho? Meu coração se revolta com a ideia de mandar reciclar aquele papel todo; por outro lado, nada altera o fato de que estão definitivamente defasados.
Também li muita enciclopédia quando criança e adolescente, numa época em que a internet era coisa dos Jetsons, mais ou menos como o teletransporte. Meu pai comprou algumas enciclopédias (o vendedor batia na nossa porta à noite e a gente os recebia, coisas de quem vivia no interior) e eu adorava, aprendi coisas ali que me servem até hoje. Perdi a conta das vezes em que minha mãe ou minha avó brigaram comigo para eu apagar a luz e ir dormir. Ou para fechar o livro e ir brincar na rua. Acho que elas temiam que eu “estragasse” os olhos de tanto ler. A vantagem que eu tive em relação às crianças de hoje é que, além de ler muito, eu brincava literalmente no meio da rua, subia em árvores, andava com os pés descalços e tomava banho de chuva.
Mas quando voltava para casa depois da pauleira, abria o livro, a revista, a enciclopédia. Ou o dicionário.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Trolando....


No http://ebooksgratis.com.br/ vi esta curiosidade (na verdade, foi-me enviada pelo meu irmão) 30 grandes escritores, trollando 30 grandes escritores. Não resisto a reproduzir aqui, até porque confesso que, embore discorde violentamente de vários, concordo com alguns....


É muito fácil criticar um autor iniciante ou aquele escritor que nunca teve um grande alcance, ainda mais se o crítico é um escritor veterano e considerado universal por sua importância histórica. Mas tem vezes que sobra até para algumas “vacas sagradas” da literatura universal, mesmo os nomes de maior peso como Dostoievsky, James Joyce ou até Mark Twain.
Nesta semana, o site Flavorwire compilou 30 das mais engraçadas provocações públicas da história literária do Ocidente, colocando autor contra autor em uma lista que, apesar de nem ser tão longa, já dá uma ideia em linhas gerais da opinião real que gênios tem de outros gênios. Na seleção, ninguém escapou das linhas afiadas destes romancistas e poetas que incluem Gustave Flaubert, Vladimir Nabokov, Virginia Woolf, Charles Baudelaire, Truman Capote e Henry James.
Logo abaixo você vê a lista completa de insultos de autores para outros autores, todos eles de renome internacional.

30. Gustave Flaubert (Madame Bovary) sobre George Sand (Mattéa)
“Uma grande vaca recheada de namquim”

29. Robert Louis Stevenson (O Médico e o Monstro) sobre Walt Whitman (Leaves of Grass)
“Ele escreve como um cachorro grande e desengonçado que escapou da coleira e vaga pelas praias do mundo latindo para a lua”

28. Friedrich Nietzsche (Assim Falou Zaratustra) sobre Dante Alighieri (A Divina Comédia)
“Uma hiena que escreu sua poesia em tumbas”

27. Harold Bloom (A Invenção do Humano) sobre J.K. Rowling (Harry Potter)
“Como ler Harry Potter e a Pedra Filosofal? Rapidamente, para começar, e talvez também para acabar logo. Por que ler esse livro? Presumivelmente, se você não pode ser convencido a ler nenhuma outra obra, Rowling vai ter que servir.”

26. Vladimir Nabokov (Lolita) sobre Fyodor Dostoievsky (Crime e Castigo)
“A falta de bom gosto do Dostoievsky, seus relatos monótonos sobre pessoas sofrendo com complexos pré-freudianos, a forma que ele tem de chafurdar nas trágicas desventuras da dignidade humana – tudo isso é muito difícil de admirar”

25. Gertrude Stein (The Making of Americans) sobre Ezra Pound (Lustra)
“Um guia turístico de vila. Excelente se você fosse a vila. Mas se você não é, então não é.”

24. Virginia Woolf (Passeio ao Farol) sobre Aldous Huxley (Admirável Mundo Novo)
“É tudo um protesto cru e mal cozido”

23. H. G. Wells (Guerra dos Mundos) sobre George Bernard Shaw (Pygmalion)
“Uma criança idiota gritando em um hospital”

22. Joseph Conrad (Coração das Trevas) sobre D.H. Lawrence (Filhos e amantes)
“Sujeira. Nada além de obscenidades.”

21. Lord Byron (Don Juan) on John Keats (To Autumn)
“Aqui temos a poesia ‘mija-na-cama’ do Johnny Keats e mais três romances de sei lá eu quem. Chega de Keats, eu peço. Queimem-o vivo! Se algum de vocês não o fizer eu devo arrancar a pele dele com minhas próprias mãos.”

20. Vladimir Nabokov sobre Joseph Conrad
“Eu não consigo tolerar o estilo loja de presentes de Conrad e os navios engarrafados e colares de concha de seus clichês românticos.”

19. Dylan Thomas (25 Poemas) sobre Rudyard Kipling (The Jungle Book)
“O senhor Kipling representa tudo o que há nesse mundo cancroso que eu gostaria que fosse diferente”

18. Ralph Waldo Emerson (Concord Hymn) sobre Jane Austen (Orgulho e Preconceito)
“Os romances da senhorita Austen me parecem vulgares no tom, estéreis em inventividade artística, presos nas apertadas convenções da sociedade inglesa, sem genialidade, sem perspicácia ou conhecimento de mundo. Nunca a vida foi tão embaraçosa e estreita.”

17. Martin Amis (Experiência) sobre Miguel Cervantes (Dom Quixote)
“Ler Don Quixote pode ser comparavel a uma visita sem data para acabar de seu parente velho mais impossível, com todas as suas brincadeiras, hábitos sujos, reminiscências imparaveis e sua intimidade terrível. Quando a experiência acaba (na página 846 com a prosa apertada, estreita e sem pausa para diálogos), você vai derramar lágrimas, isso é verdade. Mas não de alívio ou de arrependimento e sim lágrimas de orgulho. Você conseguiu!”

16. Charles Baudelaire (Paraísos Artificiais) sobre Voltaire (Cândido)
“Eu cresci entediado na França. E o maior motivo para isso é que todo mundo aqui me lembra o Voltaire… o rei dos idiotas, o príncipe da superficialidade, o antiartista, o porta-voz das serventes, o papai Gigone dos editores da revista Siecle”

15. William Faulkner (A Cidade) sobre Ernest Hemingway (Por Quem os Sinos Dobram)
“Ele nunca sequer pensou em usar uma palavra que pudesse mandar o leitor para um dicionário.”

14. Ernest Hemingway sobre William Faulkner
“Pobre Faulkner. Ele realmente pensa que grandes emoções vem de grandes palavras?”
13. Gore Vidal (O Julgamento de Paris) sobre Truman Capote (A Sangue Frio)
“Ele é uma dona de casa totalmente empenada do Kansas, com todos os seus preconceitos.”

12. Oscar Wilde (O Retrato de Dorian Grey) sobre Alexander Pope (Ensaio sobre a crítica)
“Existem duas formas de se odiar poesia: uma delas é não gostar, a outra é ler Pope.”

11. Vladimir Nabokov sobre Ernest Hemingway
“Quanto ao Hemingway, eu li um livro dele pela primeira vez nos anos 40, algo sobre sinos, bolas e bois, e eu odiei.”

10. Henry James (Calafrio) sobre Edgar Allan Poe (Os Crimes da Rua Morgue)
“Se entusiasmar com o Poe é a marca de um estágio decididamente primitivo da reflexão.”

9. Truman Capote sobre Jack Kerouac (On The Road)
“Isso não é escrever. Isso é só datilografar.”

8. Elizabeth Bishop (Norte e Sul) sobre J.D. Salinger (Apanhador no Campo de Centeio)
“Eu odiei o ‘Apanhador no Campo de Centeio’. Demorei dias para começar a avançar, timidamente, uma página de cada vez e corando de vergonha por ele a cada sentença ridícula pelo caminho. Como deixaram ele fazer isso?”

7. D.H. Lawrence sobre Herman Melville (Moby Dick)
“Ninguém pode ser mais palhaço, mais desajeitado e sintaticamente de mau gosto como Herman, mesmo em um grande livro como Moby Dick. Tem algo falso sobre sua seriedade, esse é o Melville.”

6. W. H. Auden (Funeral Blues) sobre Robert Browning (Flautista de Hamelin)
“Eu não acho que Robert Browning era nada bom de cama. Sua mulher também provavelmente não ligava muito pra ele. Ele roncava e devia ter fantasias sobre garotas de 12 anos.”

5. Evelyn Waugh (Memórias de Brideshead) sobre Marcel Proust (Em Busca do Tempo Perdido)
“Estou lendo Proust pela primeira vez. É uma coisa muito pobre. Eu acho que ele tinha algum problema mental.”

4. Mark Twain (As Aventuras de Huckleberry Finn) sobre Jane Austen
“Eu não tenho o direito de criticar nenhum livro e eu nunca faço isso, a não ser quando eu odeio um. Eu sempre quero criticar a Jane Austen, mas seus livros me deixam tão bravo que eu não consigo separar minha raiva do leitor, portanto eu tenho que parar a cada vez que eu começo. Cada vez eu tento ler Orgulho e Preconceito eu quero exumar seu cadáver e acertá-la na cabeça com seu osso do queixo.”

3. Virginia Woolf sobre James Joyce (Ulisses)
“Ulisses é o trabalho de um estudante universitário enjoado coçando as suas espinhas”

2. William Faulkner sobre Mark Twain
“Um escritor mercenário que não conseguia nem ser considerado da quarta divisão na Europa e que enganou alguns esqueletos literários de tiro-certo com cores suficientemente locais para intrigar os superficiais e preguiçosos.”

1. D.H. Lawrence sobre James Joyce
“Meu deus, que idiota desastrado esse James Joyce é. Não é nada além de velhos trabalhos e tocos de repolho de citações bíblicas com um resto cozido em suco de um jornalismo deliberadamente sujo.”

via Revista Trip, via FlavorWire

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Sopa, molho, chá e até sangue


Eventualmente sofro acidentes porque tenho também o hábito de comer lendo. Já encharquei um livro com sopa, enruguei outro com o conteúdo inteiro de uma xícara de chá e manchei páginas com molho ferrugem. Tá bom ou querem mais? Embora o acidente seja de outra área, já cortei o dedo na própria folha e manchou de sangue. Isso significa que literalmente os livros já têm o meu sangue! E casos como esses são os que eu lembro agora, mas foram incontáveis os incidentes similares.
Tudo isso porque não dissocio mais o ato de ler com o de comer. Talvez por morar sozinha, acho chato sentar direitinho, sem companhia, à mesa para as refeições. Vejo filmes em que os protagonistas comem em pé, escorados na pia da cozinha. Que coisa mais sem graça! E, na verdade, acho isso muito pior do que fazer a refeição comodamente sentado, ao mesmo tempo em que se lê alguma coisa. Ou seja: faço da refeição um prazer ainda maior. Deve ser por isso que estou sempre precisando começar uma dieta...
Mas a verdade é que tenho este hábito desde criança. Meus pais reclamavam, proibiam e ensinavam, mas eu reincidia e chegava todos os dias para o almoço com um livro sob o braço. E quem herda não furta, diz o ditado, meu super hiper mega avô fazia o mesmo. Ele conseguia ler um jornal tamanho standard e ouvir as notícias pelo rádio enquanto comia sem sequer sujar o bigode. Mas ele era um profissional, eu continuo amadora. Minha admiração era tanta que incorporei o hábito e, na casa dele, eu lia à mesa sem sofrer recriminações.
Levando em conta que é um costume tão antigo, eu já deveria estar mais safa e não deixar isso acontecer, mas o maior problema é a total distração e o envolvimento com o texto. E claro que tem a contrapartida: já perdi a conta das vezes em que, totalmente absorta, queimei a língua porque não reparei que a comida ainda estava quente demais.
E entre mortos e feridos, salvamo-nos todos.

Em tempo: a imagem é de uma bandeja de leitura em acrílico transparente que permite ao usuário ler e comer sem sujar a revista ou livro. Criação do designer coreano Yu-Hu Kin, que também já deve ter sofrido acidentes....

domingo, 26 de junho de 2011

Domingos perfeitos


Só existe uma coisa que eu goste mais do que acordar no domingo. É acordar num domingo em que chove, venta, faz frio e eu não preciso sair da cama. E posso rever “Friends” pela centésima vez. Como hoje. Mal consigo enxergar a rua pela janela, coberta por uma grossa cortina de pingos. Minha única atividade concreta foi trazer o café para tomar na cama.
E como gosto de paradoxos, pesquei “Sob o sol da Toscana” da estante e já mergulhei no verão escaldante da Itália. Gosto de livros que enfatizam o clima, tenho certa fissura por descrições metereológicas e sou a única pessoa da humanidade inteira – diz uma amiga – a acreditar em previsão do tempo. Talvez por isso eu goste de livros de viagens do tipo a-volta-ao-mundo-sozinho-em-um-veleiro ou escalações terrivelmente perigosas ao Everest. Gosto de lê-los, mas na mais absoluta segurança e conforto. Como disse acima, sou chegada num paradoxo.
E gosto de acordar cedo no fim de semana. Já tive um chefe, décadas atrás, o qual afirmava que a população de uma determinada cidade do país (não digo qual nem morta, não concordo, e adoro o lugar) acordava cedo para ficar mais tempo sem fazer nada. De qualquer forma, incorporei o pensamento: acordo – mesmo – mais cedo para curtir o dia sem compromissos. A única coisa que está na agenda é ligar para minha mãe e certificar-me de que ela está agasalhada até a alma. No mais, muitos livros e três tipos diferentes de chocolate me esperam. Bom domingo!

sexta-feira, 24 de junho de 2011

No ar


Leio em qualquer lugar. Em sala de espera, nos eventos intermináveis (escondida), nos cafés, em praças de alimentação nos shoppings e até em elevador. Já contei aqui meus tempos de faculdade em que pegava seis conduções por dia e lia durante as “viagens”. Mas o livro dentro de um avião, além de ajudar a passar o tempo e esquecer que estou confinada em uma caixa de metal a nove mil pés de altura, também me resguarda dos chatos.
Já perdi a conta do número de vezes em que enfiei a cara no livro para evitar conversas nas quais o ocupante da poltrona ao lado narra – longa e detalhadamente – a história da sua vida ou, o que é pior, desfia sua opinião a respeito do governo (qualquer um), do futuro da humanidade e, após arrancar de mim que sou jornalista, a baixa confiabilidade dos veículos de comunicação no Brasil e dos seus profissionais.
Cansei. Gato escaldadíssimo, sou monossilábica e, cara de paisagem, peço licença e vou lendo. Já fiz uma viagem de Brasília a Florianópolis sentada ao lado de um senador com o qual troquei apenas um breve cumprimento. E abri o livro. Aliás, com um audível suspiro de alívio, ele abriu o dele também, após perguntar o que eu estava lendo.
Se bem que chato profissional não se deixa abater por um livro. Começa perguntando qual é o tema, o autor, se é bom, diz quais são os seus favoritos se é que tem (nunca os meus) e, se não formos firmes, em breve estaremos envolvidos em uma longa conversa, quase impossível de interromper.
O único porém de ler dentro de um avião é o livro mais pesado literalmente falando. Ou seja, se tiver muitas páginas, cansa para segurar sem um apoio melhor do que as mesinhas para refeição. No mais, o livro mais fino é um grande companheiro desde a fila de espera do check in, passando pela muitas vezes longa espera por um vôo atrasado, até o trajeto propriamente dito. Reli “O Estrangeiro”, de Albert Camus, a partir do momento em que entrei no aeroporto em Porto Alegre até a aterrissagem em Florianópolis.
Antipática? Sem dúvida. Perco a chance de conhecer pessoas legais? Talvez. Mas é esse “talvez” que me segura. Lembro uma amiga que, sem o recurso do livro, interrompeu um papo horrível dizendo que precisava reclinar a poltrona ou iria devolver de forma pouco educada o almoço. O restante do vôo aconteceu em absoluto silêncio.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Livros “difíceis”


Só venci a vergonha (hein?) por ter tido grande dificuldade com Proust depois que li José Mindlin confessar em “Uma vida entre livros” que também passou por isso. Ele inclusive recomendava insistência por parte do leitor, que não devia abandonar a obra. Já disse aqui que tentei ler Ulysses, de James Joyce, três vezes. Também não consegui terminar de jeito nenhum “Henderson, o rei da chuva”, de Saul Bellow, e “Vitória”, de Joseph Conrad. Podem até ser ótimos livros, mas que leitura que não andava...
Em compensação, amei livros que amigos consideraram áridos, como “A montanha mágica”, de Thomas Mann, e “Arquipélago Gulag”, de Aleksandr Solzhenitsyn. “O outono do patriarca”, de Gabriel Garcia Márquez foi outro livro que li de forma bastante veloz, apesar dos parágrafos quilométricos e a quase ausência de pontuação. Cheguei à conclusão que o gosto por literatura é como o gosto pela comida. Vá explicar porque eu não gosto de cebola e amo alho. E porque eu não suporto coco e sou louca por opções mais “exóticas” como fruta do conde. Se não houvesse gosto literário o que seria de autores que considero uma tragédia e que vendem horrores?
Mas a verdade é que eu resisto a abandonar a leitura de um livro. Sei lá, acho traição. Raros foram os que larguei e não voltei a fazer nova tentativa. Taí Proust que não me deixa mentir.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Amor bruto?


Dobro, risco, desenho, sujo e marco as páginas dos meus livros. E daí? Esse é – além de um pouco aconselhável sentimento de posse – um dos motivos de eu não gostar de ler livros emprestados. O outro motivo, que não é novidade, é que gosto de ter bem à mão aquilo que me interessa. Outro dia descobri que a minha afilhada também é assim. Embora não sejamos do mesmo sangue, a convivência ao longo dos anos mostra que o fruto não cai – mesmo – longe do pé. Mas voltando ao tema principal: já fui execrada por estes hábitos tão pouco condizentes com o meu amor pelos livros. Mas acho coerente, afinal, tal comportamento apenas denota muita intimidade. Intimidade que inclui pegar no sono com livros ao meu lado na cama a ponto de, com um golpe de edredom, lançá-los ao chão junto com óculos, sem a menor cerimônia. Já anotei números de telefone em páginas de livros (e quando os releio fico morta de curiosidade acerca do possível “anotado”) e já sofri acidentes porque tenho também o hábito de comer lendo – outra hora falo sobre isso. Horrível? Não. Para mim tudo isso é normal. Anormal é deixar livros dormindo para sempre em estantes, criando bolor e ácaros sem irem para a vida. Anormal é não ler, é ver o filme e não ler o livro, é ler as resenhas e achar que está bom. Acho que, guardadas as devidas proporções, livro é como filho: por mais que os amemos, precisamos berrar com eles de vez em quando. Mas até o berro é sinal de amor. E tenho dito.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Preguiça, saldos e tapetes. Não necessariamente nessa ordem


Ando preguiçosa para tudo. Para escrever, para trabalhar (que, afinal, é a mesma coisa) e o que é muito pior: para seguir arrumando os livros de forma criativa na minha nova casa. Não sei se é o inverno (o apartamento com piso de pedra é gelado, apesar de eu tentar minimizar com tapetes) ou se cheguei a uma encruzilhada: a pilha de livros a ler não para de crescer e o meu hábito de buscar coisas antigas na estante para reler não ajuda muito a baixá-la.
Do outro lado do calçadão onde fica o meu escritório, no centro da cidade, há uma mega store que eu costumo frequentar. A intervalos regulares sai uma promoção de livros a R$ 9,90, mas a verdade é que até hoje só consegui extrair três livros dali. Acho que além de preguiçosa estou cada vez mais seletiva, incluindo o fato de que estou lendo cada vez menos ficção. Ou as livrarias estão mesmo tentando desovar enormes estoques encalhados. Se eu fosse escritora morreria ao ver o fruto do meu suor numa pilha de saldos. E olha que aparece muita gente boa ali...
Enquanto isso, vasculho lojas de móveis esperando esbarrar em uma estante linda e barata, afinal, de esperança também se vive. Consegui uma micro estante precisando de pintura (oi! e a preguiça?) e acho que bem arrumadinha não vai fazer feio na sala. De graça, até ônibus errado.
Mas todo esse nariz de cera é para dizer que apesar da preguiça, não vou deixar de postar aqui. Gosto de pensar que esse blog é uma espécie de diário moderno, a exemplo do que eu fazia quando adolescente em cadernos brochura encapados para disfarçar. Sim, eu já tive diário. Morro de pena ao lembrar que me desfiz deles quando saí da minha cidade para fazer faculdade em Porto Alegre. As coisas que já me arrependi de ter apagado, rasgado e queimado são tema para um livro. Mas como eu digo sempre, isso já é outra história.