segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Associações, lembranças e reencontros

Passei o fim de semana inteiro lendo “O último trem para Hiroshima”, livro polêmico que foi recolhido de livrarias norte-americanas após ter sido descoberto que um dos entrevistados mentiu em seu depoimento, o que levou a uma série de mudanças na obra. Mesmo assim, não vi maiores prejuízos à história, que prende e horroriza ao mesmo tempo. Prova disso é que passei o sábado e o domingo lendo, só mudando da cama para o sofá da sala e vice-versa. A certa altura, quando foi mencionado pela primeira vez o imperador do Japão, Hiroíto, acendeu-se um lampejo de memória na minha cabeça: “acho que tenho um livro sobre ele...” Larguei tudo e fui esquartejar as estantes, e o interessante é que eu quase recordava até do desenho da lombada da obra, mas não lembrava de ter lido um livro sobre ele. Lembrava sim (tanto que achei) do livro “Hiroshima”, de John Hersey. Mas enfim, após uns 15 minutos de garimpo, constatei que não estava louca e achei o livro “Hiroíto – Por trás da lenda”, de Edward Behr, comodamente instalado, juntamente com todos cujos autores começam com a letra “B”.
Mas o detalhe mais interessante: não li esse livro. Datei-o em 1991, ou seja, exatos 20 anos atrás, e não o li. Só fui lembrar da sua existência lendo outro livro com associação óbvia. Resultado: tirei-o da estante e pousei-o no alto de uma das pilhas de espera, pensativa ante a possibilidade de haver mais opções não lidas na estante. Afinal, essa é a regra: somente vão para lá os que eu já liberei. De qualquer sorte, estranhei a lembrança da mesma forma que estranhei a associação. De 1991 para cá incontáveis livros passaram pelas minhas mãos e me descubro levemente desmemoriada (outro dia, no aeroporto, comprei para ler durante o vôo um livro que já tinha; só o reconheci ao começar a desbravar as primeiras páginas), será que isso é normal? Depois dessa, creio que é uma boa ideia repassar as prateleiras em busca de não lidos, em um verdadeiro garimpo literário pessoal.
E sendo absolutamente Poliana, não deixa de ser interessante tanto esquecimento. Assim nunca me faltará o que ler, bastará atacar os “esquecidos”.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Lendo no trabalho


Mesmo com o pouco – quase nada – tempo para isso, sempre tenho aqui no trabalho um livro para ler nas horas de trégua e nos momento que chamo de “abuso”, leia-se: saco cheio. Por isso é sempre a obra de leitura mais lenta entre todas da minha vida. Estou desde março com “A biografia de Alice B. Toklas”, de Gertrude Stein me desafiando. Leio alguns parágrafos todos os dias e hoje vi que estou finalmente me aproximando do final. Essa leitura entrecortada não atrapalha a compreensão e assimilação do texto, mas admito que é meio estranho. Por isso não pode ser qualquer livro mesmo. O ideal seriam crônicas e contos, mas como não tenho compromisso com a coerência (pelo menos nesse departamento) a tendência é que eu enfie os pés pelas mãos na escolha do próximo. Aqui no trabalho já li as fábulas de Esopo, contos do meu ídolo Scott Fitzgerald (recomendo muito, por sinal) e outros que já nem lembro. De qualquer forma, estimulada pelo sol da primavera e do azul do mar que enxergo da minha janela, combinei um café com amigos hoje após o almoço. Sou capaz de dar uma paradinha na praça e ler mais um capítulo para fazer tempo...
A foto é da vista que tenho da minha janela do escritório, mais ou menos neste ângulo.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Almoço literário




Já vai longe a época em que eu conseguia sair do escritório para almoçar todos os dias. Houve um tempo em que eu até encontrava amigos para o tradicional cafezinho pós-refeição e ficávamos às gargalhadas, renovando-nos para uma tarde de trabalho. Hoje, mesmo sabendo que é errado, geralmente como qualquer coisa em frente ao computador e considero intervalo para almoço aquele em que não atendo ao telefone – o fixo, claro – do meio dia às 13h30min. E é só. Mas hoje me rebelei. Desci, atravessei o calçadão e entrei na livraria em frente, que tem três andares de tentações e onde eu compro até livros de culinária e muitos, muitos outros mais. Fui direto até o terceiro andar, sentei comodamente em uma poltrona (trocaram o modelo, achei pouco confortável o atual) e li orelhas, contracapas e página internas de muitos. Peguei vários para consultar o preço e permiti que a tentação sussurrasse para mim. Mas o anjinho que fica do lado direito do ombro lembrava-me o tempo todo: “Você não vai ler tão cedo; deixe aí; coloque na lista”. Moral da história: deu empate: saí de lá carregando um – mas apenas um! – “John Steinbeck e Robert Capa: Diário russo”. Adorei a resenha, adorei o que li lá dentro e amo Steinbeck. Mas o anjinho tem razão, sabe-se lá quando vou ler....