terça-feira, 26 de julho de 2011

À margem da vida


Outro dia revi o filme “O leitor”, no qual a protagonista, num supremo esforço de superação, aprende a ler sozinha. À parte o fato da história ser belíssima (foi um dos poucos casos em que vi o filme sem ainda ter lido o livro), fiquei imaginando o que seria a vida de um adulto não alfabetizado, sem poder – não vou nem dizer ler livros – decifrar um out-door, uma receita médica, um documento para assinar, um bilhete da professora do filho...
Não lembro de ter conhecido alguém que não soubesse ler, lembro sim, de pessoas com muita dificuldade, embora saiba que isso é mais comum do que possamos pensar. Sei que o cunhado da moça que trabalha na minha casa não tem carteira de motorista porque não é alfabetizado, mas não o conheço pessoalmente e desconheço como é a vida de alguém nessa situação.
Lembro bem, sim, (minha memória é um espanto) de quando eu ainda fingia que sabia ler, de quando ficava olhando para páginas dos livros tentando adivinhar o que eles continham, e da minha empolgação quando fui aprendendo a identificar cada letra. A professora que me alfabetizou – tenho ainda um caderno daquela época – ficou tão ligada a mim, talvez envolvida pelo meu entusiasmo, que chegou a me convidar para ser daminha no casamento dela. Bons tempos.
Na metade do primeiro ano de aula eu já lia fluentemente e passei a ter gostos literários e a sair pela cidade lendo tudo em voz alta. Chata até o último grau. Comecei a colecionar revistas em quadrinhos, ganhar (e pedir) livros de presente, a ler enciclopédias e dicionários e, aos poucos, fui descobrindo a delícia de fazer palavras cruzadas. E nunca mais pensei nisso, na capacidade ou não de ler. Até ver o filme e pensar na horrenda possibilidade de viver totalmente à margem da vida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lembro que, quando aprendi a ler, também ia falando em voz alta tudo que ia lendo no caminho. E minha mãe ia corrigindo atrás... Haja paciência! Rs...


Camila Faria