Leio em qualquer lugar. Em sala de espera, nos eventos intermináveis (escondida), nos cafés, em praças de alimentação nos shoppings e até em elevador. Já contei aqui meus tempos de faculdade em que pegava seis conduções por dia e lia durante as “viagens”. Mas o livro dentro de um avião, além de ajudar a passar o tempo e esquecer que estou confinada em uma caixa de metal a nove mil pés de altura, também me resguarda dos chatos.
Já perdi a conta do número de vezes em que enfiei a cara no livro para evitar conversas nas quais o ocupante da poltrona ao lado narra – longa e detalhadamente – a história da sua vida ou, o que é pior, desfia sua opinião a respeito do governo (qualquer um), do futuro da humanidade e, após arrancar de mim que sou jornalista, a baixa confiabilidade dos veículos de comunicação no Brasil e dos seus profissionais.
Cansei. Gato escaldadíssimo, sou monossilábica e, cara de paisagem, peço licença e vou lendo. Já fiz uma viagem de Brasília a Florianópolis sentada ao lado de um senador com o qual troquei apenas um breve cumprimento. E abri o livro. Aliás, com um audível suspiro de alívio, ele abriu o dele também, após perguntar o que eu estava lendo.
Se bem que chato profissional não se deixa abater por um livro. Começa perguntando qual é o tema, o autor, se é bom, diz quais são os seus favoritos se é que tem (nunca os meus) e, se não formos firmes, em breve estaremos envolvidos em uma longa conversa, quase impossível de interromper.
O único porém de ler dentro de um avião é o livro mais pesado literalmente falando. Ou seja, se tiver muitas páginas, cansa para segurar sem um apoio melhor do que as mesinhas para refeição. No mais, o livro mais fino é um grande companheiro desde a fila de espera do check in, passando pela muitas vezes longa espera por um vôo atrasado, até o trajeto propriamente dito. Reli “O Estrangeiro”, de Albert Camus, a partir do momento em que entrei no aeroporto em Porto Alegre até a aterrissagem em Florianópolis.
Antipática? Sem dúvida. Perco a chance de conhecer pessoas legais? Talvez. Mas é esse “talvez” que me segura. Lembro uma amiga que, sem o recurso do livro, interrompeu um papo horrível dizendo que precisava reclinar a poltrona ou iria devolver de forma pouco educada o almoço. O restante do vôo aconteceu em absoluto silêncio.