domingo, 17 de julho de 2011

A primeira vez e a inveja

O escritor Jorge Amado costumava dizer que sentia muita inveja das pessoas que ainda não tinham lido Clochemerle, romance de Chevalier, porque essas pessoas teriam a oportunidade de ler esse livro pela primeira vez. Ele dizia que a emoção da primeira leitura do romance ele já não poderia mais ter, pois o havia lido e relido muitas vezes e recomendava o livro a todos.
Foi assim que me senti quando, há alguns dias, minha afilhada contou que estava lendo, maravilhada e sem conseguir largar, “Cem anos de solidão”, de Gabriel Garcia Márquez. Além de absolutamente encantada pela escolha dela, que pegou o livro na estante da mãe, imediatamente saí com a imaginação a galope pela saga da família Buendia. Imediatamente lembrei – mais de 25 anos após ter lido – os nomes de José Arcadio, Aureliano e Úrsula, alguns dos personagens eternos, e contei à Clara que aquele foi um dos livros mais marcantes da minha vida. E, realmente, identifiquei-me com Jorge Amado. A inveja que ele sentia de quem lia Clochemerle pela primeira vez deve ter sido a mesma que senti por não poder ler mais Cem anos de solidão com a mesma sensação de inesperado, de novidade e sem sequer imaginar o final devastador que espera todos os novos leitores. Certamente outros livros fazem o mesmo comigo e com todos aqueles que amam a leitura e a maravilhosa sensação de ser levada para muito longe graças à imaginação de um escritor. Esse é, sem dúvida, um dos principais motivos que fazem do hábito de ler um vício totalmente sem cura.

Interessante é que nunca reli "Cem anos de solidão", mesmo tendo o hábito de reler a maioria dos livros que amo. Ele está aqui na minha estante, acompanhado de vários outros títulos de Márquez,talvez esperando que um dia eu volte para buscar a jovem que era quando senti o arrebatamento de lê-lo pela primeira vez.

Um comentário:

Cecilia Nery disse...

Denise, li Cem Anos de Solidão há dois anos, e confesso que foi algo extraordinário e perguntei como fiquei tanto tempo sem lê-lo. Mas acredito que se um dia vier a relê-lo, não o verei com os mesmos olhos. É claro que não será mais surpresa, pois já conheço o seu desfecho, mas ainda assim algumas coisas me parecerão inusitadas. E com você, acredito que será o mesmo, já que faz tanto tempo que leu. A releitura nunca é igual e você pode se surpreender. Bjs.