Tenho desde criança um hábito que já virou compulsão: releio incansavelmente os livros que um dia me encantaram o coração. E o mais interessante é que a cada nova leitura eu reencontro o antigo prazer. Em muitos livros eu chego a saber trechos de cor. E mesmo assim reencontro a magia guardada entre as páginas mesmo sem qualquer elemento surpresa. Raramente fico tanto tempo sem reler um livro a ponto de esquecer o que acontece e como termina. Vou mais longe: releio os livros de infância que consegui salvar. Talvez procurando a menina que fui um dia.
Há alguns anos eu descobri que não estou sozinha. Aliás, muito bem acompanhada: o escritor William Faulkner tinha o hábito de reler todos os anos os autores que amou na juventude: Cervantes, Flaubert, Balzac.
Borges também tinha o hábito de reler velhos clássicos e traduzia o seu amor pela literatura afirmando que “se recuperasse a visão eu não sairia de casa, ficaria lendo e relendo os inúmeros livros que possuo.”
Claro que muita gente tem esse hábito e não vou ficar aqui dando uma de pedante achando que só eu – além dos mestres – faz isso. Mas até hoje não encontrei pessoalmente uma alma gêmea na releitura. E adoraria.