sexta-feira, 24 de junho de 2011

No ar


Leio em qualquer lugar. Em sala de espera, nos eventos intermináveis (escondida), nos cafés, em praças de alimentação nos shoppings e até em elevador. Já contei aqui meus tempos de faculdade em que pegava seis conduções por dia e lia durante as “viagens”. Mas o livro dentro de um avião, além de ajudar a passar o tempo e esquecer que estou confinada em uma caixa de metal a nove mil pés de altura, também me resguarda dos chatos.
Já perdi a conta do número de vezes em que enfiei a cara no livro para evitar conversas nas quais o ocupante da poltrona ao lado narra – longa e detalhadamente – a história da sua vida ou, o que é pior, desfia sua opinião a respeito do governo (qualquer um), do futuro da humanidade e, após arrancar de mim que sou jornalista, a baixa confiabilidade dos veículos de comunicação no Brasil e dos seus profissionais.
Cansei. Gato escaldadíssimo, sou monossilábica e, cara de paisagem, peço licença e vou lendo. Já fiz uma viagem de Brasília a Florianópolis sentada ao lado de um senador com o qual troquei apenas um breve cumprimento. E abri o livro. Aliás, com um audível suspiro de alívio, ele abriu o dele também, após perguntar o que eu estava lendo.
Se bem que chato profissional não se deixa abater por um livro. Começa perguntando qual é o tema, o autor, se é bom, diz quais são os seus favoritos se é que tem (nunca os meus) e, se não formos firmes, em breve estaremos envolvidos em uma longa conversa, quase impossível de interromper.
O único porém de ler dentro de um avião é o livro mais pesado literalmente falando. Ou seja, se tiver muitas páginas, cansa para segurar sem um apoio melhor do que as mesinhas para refeição. No mais, o livro mais fino é um grande companheiro desde a fila de espera do check in, passando pela muitas vezes longa espera por um vôo atrasado, até o trajeto propriamente dito. Reli “O Estrangeiro”, de Albert Camus, a partir do momento em que entrei no aeroporto em Porto Alegre até a aterrissagem em Florianópolis.
Antipática? Sem dúvida. Perco a chance de conhecer pessoas legais? Talvez. Mas é esse “talvez” que me segura. Lembro uma amiga que, sem o recurso do livro, interrompeu um papo horrível dizendo que precisava reclinar a poltrona ou iria devolver de forma pouco educada o almoço. O restante do vôo aconteceu em absoluto silêncio.

Um comentário:

Cecilia Nery disse...

É uma boa escapada, essa do livro.
Nunca peguei um avião, então não sei com o é ler ali. Se for igual ao metrô, acho que leio numa boa, mas se for como ônibus ou carro, então não vai dar. Fico enjoada, não tem jeito.
Sei como são esses papos, às vezes você não está a fim e a pessoa prossegue no seu discurso. Isso também me cansa. Você tem razão. O único senão é deixar de conhecer pessoas ótimas, mas isso é tão difícil... Bjs.