terça-feira, 19 de julho de 2011
"uma menininha que gostasse muito de ler..."
Minha avó materna tinha um repertório limitadíssimo de histórias infantis. Só lembro de uma: “Fernando e o avião vermelho”, creio até que inventada por ela, mas que adorávamos ouvir e, se possível, meter uns cacos na história, meu irmão e eu éramos ótimos nos palpites. Por outro lado, ela tinha uma paciência de santo para contar, com muitos detalhes como criança gosta, várias e várias vezes as poucas histórias que sabia.
Hoje penso que aprendi a procurar o que eu queria nos livros porque na minha casa nunca tive essa de pai ou mãe ler para os filhos ou contar histórias de memória. Minha mãe era professora e o tempo era curto para dar conta de tudo, mas quando o colégio em que ela trabalhava resolveu – sabe-se lá porque – fechar a biblioteca da escola, ela foi até lá e resgatou os livros que me faltavam para completar a coleção de Laura Ingalls Wilder, saga de uma família americana que deliciou a minha infância. Tenho essa coleção até hoje, caindo aos pedaços, mas a folheio de vez em quando.
Desde muito pequena eu lembro de termos coleções de livros infantis em casa. “O mundo da criança” é a primeira de que recordo. Minha mãe custou a me liberar a leitura, pois tinha medo que eu os estragasse. Outra coleção – não lembro o nome – tinha as capas dos livros com cores diferentes. Minha mãe gostava de contar que havia adquirido quando ainda estava grávida e que o vendedor a havia convencido a comprá-la sugerindo que o bebê ainda na barriga poderia ser “uma menininha que gostasse muito de ler”. Preciso dizer que eu amava essa história?
Essas coleções estão todas comigo, em um aparador no meu apartamento. Hoje, relembrando tudo isso, vejo mais uma vez o quanto fui privilegiada. Meus pais pouco mais puderam me dar do que o estudo, mas o plus foi, sem dúvida, o gosto pelo maravilhoso mundo das letras. E que hoje, como nada parece ser por acaso, me ajuda a ganhar a vida.
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Um comentário:
Que gostoso relembrar tudo isso.
Tive algumas coleções quando criança, mas ao contrário de você, muitas delas não foram preservadas e acabaram em outras mãos. Hoje sinto, porque isso faz parte da nossa história. Que bom que você ainda tem as suas. Conserve-as, ainda que estejam caindo aos pedaços, e esses pedaços são a sua história. Bjs.
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