terça-feira, 23 de agosto de 2011

Um mês de presente




Graças a uma hepatite aos 14 anos, “ganhei” do médico 32 dias de absoluto repouso, ou seja, cama. E dela só podia sair para ir ao banheiro. Foi mais de um mês sem escola, amigas, visitas e até um mísero passeio de carro. Naquela época não era comum criança ou adolescente ter tevê ou telefone no quarto e lógico que computador era só coisa de filme de ficção científica. E o que eu fiz naquele mês que hoje considero dourado? Li. Quando não estava dormindo (ou tomando banho) eu estava lendo e ataquei tudo o que foi possível. Além das coleções que tínhamos em casa, minha mãe trazia livros da biblioteca da escola onde ela dava aulas, meu irmão conseguia gibis com os amigos e meu avô contribuía com empréstimos nacionais da sua estante quase só em alemão.
Eu já devia ter o hábito de reler, não acredito que tenha vindo dali, mas reli quase tudo mais de uma vez, só não estudei mesmo, era só o que faltava! Não lembro daqueles dias como tediosos, pelo contrário, lembro da tranquilidade, do silêncio da casa, do calorzinho sob os cobertores (era setembro, em uma época que setembro ainda era sinônimo de inverno), do enorme vidro de balas e doces abastecido pelo meu pai e das pilhas de livros e revistas ao meu redor. Quase o paraíso.
Excetuando umas gripezinhas que mal conseguem me manter um dia longe do trabalho, nunca mais precisei ficar de molho dessa forma e lógico que nem o desejo (sai, satanás!), mas hoje, vendo a chuva que castiga Florianópolis há dois dias e o frio que obriga a vestir um casaco sobre o outro, lembrei daquele mês que ganhei de presente da vida, talvez como uma compensação para a minha total incapacidade de tirar férias depois de adulta.

Pelo menos uma coisa boa estava liberada pelo maldito médico: os doces, quanto mais, melhor para o fígado, dizia ele. Santa juventude: comi como uma louca por um mês e meu peso passou de 47 para 48 quilos. O fígado continua ótimo e acho que veio daí a mania de ler sempre mordiscando alguma coisa.

4 comentários:

Cecilia Nery disse...

Ai que delícia!
É bom demais ter o tempo todo do mundo para ler e você fez a coisa certa. Bjs.

Anônimo disse...

Livros + doces??? É o paraíso, né Denise?

:)

Camila Faria

lilly disse...

vc acredita que qdo eu era crianca ouvia esta estoria, de que so se pdiamcomer doces e eu vivvia orcendo pra ter hepatite???
olha so que coisa louca...

Luks Vieira disse...

Kkk, linda história como leitora...simplesmente amei.
Att.,
Luks