sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Capas e cupins





Sou a primeira a admitir que amo os livros, mas não sou exatamente a pessoa mais cuidadosa do mundo com eles. E como os manuseio bastante e leio em qualquer lugar e circunstância (levo-os na bolsa e isso detona qualquer exemplar), tenho alguns livros bem acabadinhos. E o que faço então? Encapo-os com plástico bem grosso, na impressão de que isso os protege. Já me disseram que é péssima ideia, que com isso o livro não “respira” e outras coisas mais que nem lembro, não devo ter prestado atenção. Não quero que pensem aqui que sou descuidada a ponto de ser relapsa, nada disso. Eu só sou uma leitora passional e às vezes o amor é meio bruto mesmo. Aliás, respirando ou não, eu já fui salva por uma capa de plástico quando, há vários anos, bateu uma nuvem de cupins na minha antiga estante de madeira. Depois de um ataque de horror e de livrar-me imediatamente do móvel, paguei um extra à faxineira para olhar livro por livro e certificar-se de que nenhum deles tinha sido atacado pelos bichos miseráveis. Após todos terem sido esmiuçados, apenas um estava literalmente infestado, justamente um dos encapados com plástico grosso, o que impediu que os cupins pulassem para os vizinhos. De sorte que continuo encapando. Eles podem não respirar, mas eu me sinto mais segura assim e nem imagino o porquê.


Depois do ataque de cupins, meus livros ficaram durante anos em estante de metal, primeiro porque eu morria de medo de que se repetisse o ataque e segundo porque foi o que deu para pagar na época, numa solução emergencial que se estendeu por longo tempo até eu mandar fazer um móvel sob medida.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Um mês de presente




Graças a uma hepatite aos 14 anos, “ganhei” do médico 32 dias de absoluto repouso, ou seja, cama. E dela só podia sair para ir ao banheiro. Foi mais de um mês sem escola, amigas, visitas e até um mísero passeio de carro. Naquela época não era comum criança ou adolescente ter tevê ou telefone no quarto e lógico que computador era só coisa de filme de ficção científica. E o que eu fiz naquele mês que hoje considero dourado? Li. Quando não estava dormindo (ou tomando banho) eu estava lendo e ataquei tudo o que foi possível. Além das coleções que tínhamos em casa, minha mãe trazia livros da biblioteca da escola onde ela dava aulas, meu irmão conseguia gibis com os amigos e meu avô contribuía com empréstimos nacionais da sua estante quase só em alemão.
Eu já devia ter o hábito de reler, não acredito que tenha vindo dali, mas reli quase tudo mais de uma vez, só não estudei mesmo, era só o que faltava! Não lembro daqueles dias como tediosos, pelo contrário, lembro da tranquilidade, do silêncio da casa, do calorzinho sob os cobertores (era setembro, em uma época que setembro ainda era sinônimo de inverno), do enorme vidro de balas e doces abastecido pelo meu pai e das pilhas de livros e revistas ao meu redor. Quase o paraíso.
Excetuando umas gripezinhas que mal conseguem me manter um dia longe do trabalho, nunca mais precisei ficar de molho dessa forma e lógico que nem o desejo (sai, satanás!), mas hoje, vendo a chuva que castiga Florianópolis há dois dias e o frio que obriga a vestir um casaco sobre o outro, lembrei daquele mês que ganhei de presente da vida, talvez como uma compensação para a minha total incapacidade de tirar férias depois de adulta.

Pelo menos uma coisa boa estava liberada pelo maldito médico: os doces, quanto mais, melhor para o fígado, dizia ele. Santa juventude: comi como uma louca por um mês e meu peso passou de 47 para 48 quilos. O fígado continua ótimo e acho que veio daí a mania de ler sempre mordiscando alguma coisa.

domingo, 21 de agosto de 2011

Apenas uma declaração de amor

Já me perguntaram por que não faço resenhas aqui. As razões são duas: 1- Morro de preguiça, e 2: não é o objetivo deste espaço, que comecei por pura bobeira, após alguns anos passeando pela web e acompanhado blogs pelos quais me encantei, em especial sobre decoração e coisas para a casa. Só bem mais tarde procurei blogs sobre livros e vi que a maioria faz e publica ótimas resenhas, que já me ajudaram a escolher as próximas aquisições. Minha intenção sempre foi falar da minha relação com os livros e com a leitura e o papel definitivo e preponderante que exercem na minha vida desde muito criança. Como diz no templete: o blog é uma declaração de amor aos livros. Outro dia vi por acaso um papo em vários blogs sobre os livros que recebem das editoras para escrever resenhas e percebi surpresa que existe uma parceria que tem um pouco de relação comercial: as editoras mandam os livros e os blogueiros precisam fazer as resenhas. Fiquei então imaginando a minha desorganização para ler, a demora em pegar um livro recém adquirido e – o principal – o fato de que eu me sentiria trabalhando se tivesse que escrever resenhas (ganho a vida escrevendo e escrevo o dia inteiro, nem imagino fazê-lo com mais um motivo, tornando o blog mais um “trabalho”).

Assim, vou continuar escrevendo quando me der vontade ou tiver assunto e não farei resenhas (a menos que leia algo que goste tanto que precise dividir). Vou continuar procurando-as nos blogs de que tanto gosto e acompanho quase diariamente e falar aqui apenas sobre a minha forma de me relacionar com a leitura. Afinal, foi isso que me motivou até hoje.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A pilha. Ou melhor, as pilhas!



Tem de tudo. De E. M. Forster (A mais longa jornada), Alberto Manguel (À mesa com o chapeleiro maluco); Gay Talese (A mulher do próximo), Notícias de um sequestro (Gabriel Garcia Márques que, aliás, tem também a biografia, Viver para contar), Albert Camus (O mito de Sísifo), Antônia Fraser (A revolução da pólvora), Sterne (Viagem sentimental) , Anatole France (O crime de Silvestre Bonnard) e, se nada acontecer, o próximo, Arthur Schopenhauer (Como vencer um debate sem precisar ter razão, comprado há mais de três anos por indicação de um amigo querido em uma viagem a trabalho para Porto Alegre).
Isso tudo e muito mais: são 12 livros de um lado da cama e 36 do outro, onde a “mesa” de cabeceira é uma rack bem espaçosa. Essa é a famosa pilha de livros na fila e estou com preguiça de listar todos, embora não para lê-los. Para isso só preciso de tempo. Tem coisa que chegou agora, como o Pai Goriot, de Balzac, e tem coisa que está na fila há vários anos, como Middlemarch, de George Eliot. Provavelmente sempre terei muita coisa esperando, mas imagino que não nesta quantidade. Os 48 livros estão divididos em quatro pilhas. Eram duas quando cheguei ao meu penúltimo apartamento. Fica a dúvida se eu li menos (ando lendo mais devagar mesmo, admito) ou se acrescentei mais. Um pouco de cada, sem dúvida. De qualquer forma estou suprida no caso hipotético de um acontecimento nuclear que tranque todo mundo em casa por meses (tipo o filme “O dia depois de amanhã”, que está passando agora no telecine). Não duvidaria que os livros acabassem antes da comida....


segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A posse. Ai, a posse...


Assim como detesto emprestar meus livros, também não gosto de ler os que não são meus. O meu jeito esquisito de ler, pegando e largando, atravessando várias leituras no meio, indo à estante buscar referências ou relembranças, faz com que em algumas oportunidades o livro demore a ser liberado. E isso não ajuda em nada a reduzir as pacientes (qual o remédio?) pilhas de obras nas mesas de cabeceira.
Por outro lado, o meu velho e já muito admitido sentimento de posse faz com que livro apreciado precise morar em definitivo comigo, entre outros motivos, para eu voltar a ele sempre que me der vontade. Tenho o hábito de comprar livros que já li e que gostei tanto a ponto de querer um exemplar. Quando isso acontece, vão direto para a estante, a menos que a vontade seja muita e eu releio imediatamente. Depois da compra passo dias namorando a nova aquisição. Isso vem do tempo em que pegava unicamente livros em bibliotecas ou conseguia emprestado. Ficou aquele sentimento ruim do “querer e não poder ter” que me visita até hoje, obrigando-me a adquirir pelo puro e simples sentimento de posse. Tenho uma amiga que conta seus tempos de infância em que tinha apenas um sapato de inverno e uma sandália para o verão. Hoje, bem sucedida, compra sapatos a granel e admite que é para compensar os tempos de miserê.
É provável que aconteça o mesmo comigo no que se refere aos livros, e por isso vou comprando.

domingo, 14 de agosto de 2011

Segundo domingo de agosto...

Dia dos pais é uma data complicada para mim, que há 11 anos não tenho mais o meu pai neste mesmo plano. Impossível não chorar ao lembrar que cresci cercada de livros em uma casa onde educação era prioridade, mesmo sendo ele uma pessoa com pouco estudo. Desde 2000, quando ele se foi (não consigo usar a palavra “morte”) fujo de verdade de livros e filmes que versam sobre relações entre pais e filhos, numa tentativa de manter o coração quieto. Mas hoje, quero relembrar que aprendi a gostar de ler estimulada também por ele - já falei sobre isso neste blog - da mesma forma que escolhi o time para o qual torço até hoje e defini a profissão que iria seguir. O orgulho que ele tinha dos filhos é bem parecido com o que sinto por ele. Parabéns pelo teu dia, pai, onde você estiver.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Órfã


Adoro sebos. Pena que está cada vez mais difícil achar alguma preciosidade ali. Tenho notado que eles estão cada vez mais semelhantes entre si, com mais ou menos as mesmas opções e – surpreendente – até os mesmos preços. Aqui no centro de Florianópolis há uma rua com vários e na quarta-feira, por puro acaso passei por ali. Mesmo pressionada pela falta de tempo, entrei rapidamente em dois deles e saí de mãos abanando (incoerência, mas sebos não estão incluídos na minha decisão de dar um tempo nas novas aquisições para as pilhas de não lidos não aumentarem tanto). A impressão que tive é que os livros mais novos são cerca de 5 a 10% mais baratos que na livraria, o que na minha opinião não vale a pena, e os livros mais velhos são muito iguais e com muita porcaria, incluindo toneladas de best sellers antigos. Pouquíssimos clássicos (adooooro) e os que estavam disponíveis tinham muitas repetições. Lógico que preciso tirar um tempo para repassar todos com calma, mas fiquei com uma sensação de orfandade e como se tivesse sido abandonada pelo melhor amigo. Já me disseram que os sebos de São Paulo lá são ótimos e me reacendeu a vontade de sair para garimpar em outras terras...

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Quando tudo sai do controle


Como toda a compulsão, comprar livros também é algo que pode sair do controle. Já comentei que meu escritório fica em frente a uma megastore que constantemente faz promoções e liquidações, embora raramente eu encontre algo que eu deseje ler em um balaio. De qualquer forma, com ou sem balaio de ofertas, compro muito ali, incluindo as aquisições online, com preços às vezes impossíveis e sem frete. Claro que fica impossível resistir e eu sempre consigo achar algo que me interesse nos sites e “aproveitar”. E é bem diferente daquela compulsão que toda mulher tem: compra a roupa ou o sapato sem precisar, porque “o preço estava imperdível”. O livro, ao contrário da roupa desnecessária que todas compramos, eu sei que vou ler, embora não possa precisar quando. Há cerca de quatro meses dei um stop nisso tudo e venho conseguindo me controlar, apesar dos olhares compridos e sofridos na direção do outro lado da rua, pelo mais prosaico dos motivos: chega de empilhar e demorar para ler. E isso tem a ver com o post anterior, quando narrei meu domingo desovando leituras paradas. Não devo ser a única a tentar retomar um livro no ponto onde havia parado e não lembrar nadinha, tendo que voltar ao início. Claro que isso não significa abstinência total de novas compras, mas – pelo menos por um tempo – bom senso. Se for para sair da livraria lendo, tudo bem, caso contrário, vai para a lista (sim eu tenho uma!)

Já saí da livraria em frente com uma pilha de livros, tudo parcelado em várias vezes no cartão, tal qual uma geladeira. Se isso não é compulsão, não sei o que possa ser.

domingo, 7 de agosto de 2011

Pegando e largando

Cresce o meu péssimo hábito (pelo menos para mim) de eventualmente largar pela metade (ou antes, ou depois) os livros que estou lendo, deixando-os de lado em uma das pilhas “esperando a vez” nas mesas de cabeceira e partir para outros. Hoje acordei invocada com isso e consegui desovar três, todos com leitura bem adiantada: “A turma que não escrevia direito”, de Marc Weimgarten, já falei dele aqui neste blog; “A alma da casa”, de Jane Alexander, e as fábulas completas de Esopo, que comprei em mais uma crise de saudade da infância. Li a manhã inteira, das sete da manhã à uma da tarde, aproveitando a manhã fria de inverno e sem nem sair da cama. Após banho e almoço voltei para o ninho e ataquei “200 Crônicas Escolhidas”, de Rubem Braga, outro abandonado há meses. Não sei quanto tempo vai durar esse furor organizacional até eu voltar à bagunça normal de pegar e largar sem remorso. A verdade é que esse desejo de terminar o que comecei tem mais a ver com a angústia pelas pilhas que não diminuem do que “saudade” da obra abandonada em si. Tenho vários outros pela metade, ou menos, mas vou tentar liberar pelo menos um por semana. As duas estantes que ficam no meu quarto estão cheias e os livros mais recentes estão indo para a sala mesmo.
Enquanto não me atrevo a mandar fazer espaços sob medida para os livros vou sonhando com as “estantes de quinta” da Mi Muller, do Bibliophile (www.bibliophile.com.br), e tentando segurar novas aquisições, apesar de receber informativos online da Saraiva, Cultura e outras, tentando me tirar do (mau) caminho.