Ao contrário da maioria das
pessoas, não gosto muito de surpresas. Sei lá, deve ter faltado esse gene
quando fui gerada. Fico sem ação, levo uns dois ou três minutos para saber o
que dizer, paro com sorriso idiota no rosto (quando é boa) e boca aberta
(quando é ruim). Imagino que eu seja raridade, mas abro uma exceção: lido
melhor com surpresas quando estou sozinha e não me perguntem o porquê.
Deve ser por isso que gostei
tanto quando, há umas duas semanas, ao chegar em casa no final do dia e
encontrei me esperando a maravilha da foto: sete livros de uma coleção muito
antiga que reúne obras de José de Alencar, Aluísio de Azevedo e outros autores
brasileiros. Carinhoso presente da querida Lurdes, que há quase 15 anos cuida
da minha casa melhor do que eu. Além de deixar tudo brilhando, fez brilhar os
meus olhos.
Os livros por si só já são lindos
e ao folheá-los encontrei romances brasileiros que tínhamos que ler no tempo do
colégio. Provavelmente eu era uma das poucas alunas a gostar da “obrigação” e
fazia um belo suco dos limões que nos empurravam. Claro que na época li muita
porcaria e ainda quero entender porque – com tanta opção maravilhosa – não indicavam
obras de mais fácil leitura para adolescentes inquietos. Certamente vem daí a
falta de interesse de tanta gente pela leitura.
Com o presente fiz mais uma viagem
no tempo e recordei quando – na sexta série – tive uma professora que nos
fazia, além de ler os livros, resumi-los e adaptá-los a peças teatrais que representávamos
para os colegas de classe, literalmente morrendo de vergonha. Só quem tinha
veia artística se safava, o que certamente não era o meu caso.
Creio que ali descobri meu gosto
pelas palavras, eu era inevitavelmente a responsável pelo resumo e adaptação do
livro. Devia dar certo, pois sempre tive ótimas notas em literatura. Pena que,
petulante, já que assumia a parte mais difícil do trabalho, reservava o papel
principal para mim, na cara dura. Só por isso eu já merecia um belo zero. Mas a
Lurdes ganhou um dez com estrelinhas pela lembrança carinhosa, por não se
importar em aumentar o número de livros para tirar o pó em um apartamento já sobrecarregado, e por me permitir desfrutar
da surpresa como gosto: sem platéia. Realmente, os tempos de papel principal eu
deixei para trás faz tempo...